24 de mai. de 2011

Participação feminina.

Dilma não consegue elevar participação feminina em chefias


Mulheres ocupam só 1/5 dos cargos de segundo escalão, participação ligeiramente abaixo do fim do governo Lula

Presença feminina cai em postos mais altos; considerando todo o governo, as mulheres são 45% dos servidores

Passados quatro meses de nomeações, o governo Dilma Rousseff não conseguiu atingir seu objetivo de elevar a participação feminina nos principais postos de comando e assessoria do segundo escalão federal.

Segundo os primeiros dados sobre o funcionalismo na nova administração petista, as mulheres ocupam pouco mais de um quinto dos principais cargos de livre nomeação do Executivo -ou 55 de um total de 262.

São secretárias-executivas, secretárias de Estado, assessoras-chefes e presidentes de institutos, funções conhecidas na burocracia brasiliense pelas siglas DAS-6 (Direção e Assessoramento Superior, nível 6) e NES (Cargos de Natureza Especial).

A participação feminina atual nessa elite gerencial está ligeiramente abaixo da contabilizada no final do governo Lula, durante o qual o percentual cresceu de forma lenta e descontínua.

Agora como antes, essa participação não chega à metade da verificada no funcionalismo como um todo. As mulheres são 45% dos servidores civis ativos do Executivo, proporção que se repete nos cargos de comando mais baixos (DAS 1, 2 e 3).
A presença de mulheres cai, no entanto, quando se eleva a hierarquia dos postos, por motivos que podem ir das particularidades de gênero até as negociações políticas com aliados.
Na transição, a presidente orientou aliados a buscar mulheres para ocupar a Esplanada. Tinha na cabeça um propósito: chegar a um terço de ministras. Acabou iniciando seu mandato com um patamar menor (24%) por falta de indicações.
Somente o PT cumpriu a orientação. Nove dos 17 representantes petistas na Esplanada são mulheres. Aliás, todas as titulares do primeiro escalão vêm da cota do PT.
"Ter um número superior era um desejo da presidenta, mas ela não pode impor isso aos partidos aliados", disse a ministra Iriny Lopes (Políticas para as Mulheres).
Questionada se, com esse diagnóstico, os partidos poderiam ser classificados como "preconceituosos", a ministra afirmou: "Evidente. Se não fosse, não teríamos apenas 8,8% de mulheres num universo de 513 deputados".
Ainda assim, a participação feminina na Esplanada sob Dilma supera a de antecessores. No fim do governo, Lula tinha apenas três ministras em sua equipe.
Fonte: Gustavo Patu e Natuza Nery, Folha de São Paulo de 23/05/2011.


ANÁLISE
Desejos distintos podem ajudar a explicar desequilíbrio entre gêneros
Dilma Vana Rousseff não é a primeira feminista a descobrir que não basta a caneta presidencial para obter os tão almejados 50% de participação das mulheres nos cargos de comando da administração.

Durante a maior parte dos anos 60 e 70, vigorou o paradigma segundo o qual todas as diferenças de comportamento entre os sexos eram fruto ou da educação ou da discriminação. Cabia ao feminismo resolver isso e surgiria o perfeito equilíbrio entre os gêneros.
Não foi o que aconteceu e isso despertou o interesse de alguns pesquisadores, como a psicóloga Susan Pinker.

Em "The Sexual Paradox", ela sustenta que não é mais possível negar que existam diferenças biológicas entre homens e mulheres e dedica algumas centenas de páginas do trabalho a apresentar evidências científicas.

Para Pinker, mulheres são menos extremas e mais empáticas do que os homens.

Embora não tenham sido detectadas diferenças cognitivas que as tornem piores em ciências e matemática, por exemplo, mulheres, quando podem, preferem abraçar profissões que lidem com pessoas (em oposição a objetos e sistemas).
Hoje, nos EUA, elas dominam a carreira médica e permanecem minoritárias na engenharia e na física.

Nos países hiperdesenvolvidos, onde elas gozam de maior liberdade para escolher sua profissão, esse "gap" é maior do que nas nações em desenvolvimento, onde elas são às vezes obrigadas a exercer ofícios que não são os de seus sonhos.

É isso que explica uma proporção maior de engenheiras na Turquia e na Bulgária do que na Dinamarca e na Suécia.

Além disso, não se prendem tanto à carreira. Trocam sem muita hesitação uma posição de comando para ficar mais tempo com a família. Essa é uma das razões por que sacrificam trajetórias promissoras em favor de horários mais flexíveis.
É esse desejo, mais do que a discriminação, que explica a persistente diferença salarial entre homens e mulheres em nações desenvolvidas.

Para Pinker, as mulheres seriam mais felizes se reconhecessem essas diferenças biológicas e parassem de tentar imitar os homens, buscando o que realmente elas querem.
Evidentemente, essas ideias não foram muito bem digeridas pelo feminismo.

Fonte: Hélio Schwartsman, Articulaista da Folha.

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